domingo, 28 de setembro de 2008

Carmen




A Carmen e os seus olhos dormidos. A primeira imagem que me vem à cabeça quando penso na Carmen são seus claros olhos soturnos e lentos. Ao andar, anáguas de tempos imemorias conferem-lhe movimentos seculares que afastam as pessoas de sua frente com ondas de vento quente e cortante, como que mostando que o próprio destino dessas pessoas – infelizes transeuntes – é justamente o de deixar o caminho livre para que o que é vivo de fato aconteça.
Seu tronco é o pilar central do mundo e, com altivez de bailarina, sustenta-o como se tivesse nascido para fazê-lo. É perigoso pensar que, por conta de seus passos em pluma e sincronizados, a tarefa é fácil. Não caro amigo; desavisado amigo. Repara-lhe os olhos: acaso não vês o quanto de peso há sobre eles? Todo o peso do mundo, o peso da humanidade: o saber-se só. Tudo na Carmen é mágico. Tudo sobra, tudo falta e, assim, ela é completa.
A única pessoa do mundo que, possuindo dois vetores em direções opostas consegue, ainda assim, mover-se, é a Carmen. Ela pára e no entanto seu olhar continua caminhando, seguindo um rumo que é o próprio caminho que dali a pouco ela mesma cumprirá. Alinhava seu destino com seus olhos verdes e grandes. Longínquos.
A nós a Carmen não nos olha nos olhos: é em nossas almas que pousa seu olhar. Incontrolável devassa que em segundos nos deixa nus, ali, desprotegidos e ridículos em frente àqueles dois olhos que mais parecem dois mundos.

2 comentários:

Ana disse...

Deixou a Carmen pelada agora.

Carmen disse...

ARTE POÉTICA



Incendiarse

en

la

palabra.



Crecer

en

libertad.


Rubén Vela(Poemas,1972)

Kandinsky

Kandinsky
looking for the rabbit...