sábado, 21 de março de 2009

Ordem e Progresso



Do ônibus vi a loja de eletrônicos, toda em azul, vermelho e amarelo. Era impossível não notá-la. A televisão era de plasma, quarenta e duas polegadas, PL42A450 - (1024 X 768 Pixels), de alta definição (HDTV Ready), entradas HDMI e PC. O valor era de mil oitocentos e noventa e nove reais. Em frente à loja estava a caixa vazia de uma dessas televisões e, dormindo sobre ela, um garoto que, com dezesseis, nunca passará dos dez anos. Não é impossível percebê-lo.

domingo, 8 de março de 2009

Inverno



Hoje, pela janela, senti uma intenção de outono. Sentado e organizando meus livros percebi que entre as ondas de calor já as atravessam feixes de outono e, o mais curioso, é justamente a sensação de que tais feixes vêm dando notícias do inverno. Trocando em miúdos, acho que o inverno me fez uma visita, rápida, de médico. Mas veio, e já o espero.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

EU

E no primeiro
Do caso reto?
Que outros pronomes
Procuram teto?

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Homenagem à melhor amiga do homem


E sua tristeza era tanta que nela os carinhos que fazia tinham o efeito de pranto, que ecoava pelo corredor do prédio e entrava por entre as fechaduras das portas trancadas à melancolia, e em pouco tempo o choro em dó transformava-se em lágrimas nos olhos dos que ouviam desprevinidos, por assim dizer, o som do pranto. Únicos em seu quarto: ele e ela. Suas mãos por entre seus fios trágicos e graves a faziam estremecer de súbito e, como um susto, chorar junto com ele.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Quem somos?

Uma aposta:
pra essa pergunta
não há resposta.

domingo, 28 de setembro de 2008

Carmen




A Carmen e os seus olhos dormidos. A primeira imagem que me vem à cabeça quando penso na Carmen são seus claros olhos soturnos e lentos. Ao andar, anáguas de tempos imemorias conferem-lhe movimentos seculares que afastam as pessoas de sua frente com ondas de vento quente e cortante, como que mostando que o próprio destino dessas pessoas – infelizes transeuntes – é justamente o de deixar o caminho livre para que o que é vivo de fato aconteça.
Seu tronco é o pilar central do mundo e, com altivez de bailarina, sustenta-o como se tivesse nascido para fazê-lo. É perigoso pensar que, por conta de seus passos em pluma e sincronizados, a tarefa é fácil. Não caro amigo; desavisado amigo. Repara-lhe os olhos: acaso não vês o quanto de peso há sobre eles? Todo o peso do mundo, o peso da humanidade: o saber-se só. Tudo na Carmen é mágico. Tudo sobra, tudo falta e, assim, ela é completa.
A única pessoa do mundo que, possuindo dois vetores em direções opostas consegue, ainda assim, mover-se, é a Carmen. Ela pára e no entanto seu olhar continua caminhando, seguindo um rumo que é o próprio caminho que dali a pouco ela mesma cumprirá. Alinhava seu destino com seus olhos verdes e grandes. Longínquos.
A nós a Carmen não nos olha nos olhos: é em nossas almas que pousa seu olhar. Incontrolável devassa que em segundos nos deixa nus, ali, desprotegidos e ridículos em frente àqueles dois olhos que mais parecem dois mundos.

sábado, 27 de setembro de 2008

Metafísica

O que importa é ser
Sabendo-se nada
E compreender

Kandinsky

Kandinsky
looking for the rabbit...